sábado, 7 de junho de 2014

Não me deixem interpretar texto!

Ao longo da minha vida escolar eu fui abençoado com ótimas professoras de português e lembro de cada uma delas com o maior carinho. Além do meu pai que já tentou se engajar numa licenciatura em Letras e hoje em dia ensina voluntariamente língua portuguesa para pré-vestibulandos em uma comunidade carente. Apesar de não ser mestre em gramática ou não conhecer de cor todos os estilos literários e técnicas de redação, Língua Portuguesa é/era minha matéria favorita. Hoje mais do que a gramática e literatura, a história, os dialetos e o valor do português são parte dos meus assuntos de interesse. Quando a faculdade de Direito me dá brecha, eu sempre gosto de ler uns artigos aqui e uns livros lá.
Como por exemplo, recentemente um dos meus temas favoritos começou com uma discussão num fórum na internet onde um cara fez uma das afirmações das quais eu mais odeio: "Nossa língua é o brasileiro". Essa afirmação me fez ler sobre a origem do grupo de dialetos do português brasileiro e resultou na minha descoberta da Galiza e de um grupo de linguistas da região que defendem que seu idioma pudesse ser chamado de "português galego" e tudo isso resultou numa postagem no Gonca livros - "Galego, a nosa lingua?".
Contudo, na mesma matéria que eu amava tanto, tinha lá também os momentos que eu mais odiava no meu período escolar e principalmente no ensino fundamental 2, as aulas de interpretação textual. Eu penei muito nessas aulas. Eu as odiava mais do que as aulas de ensino bíblico. Eu reclamava com minha mãe que não queria fazer a prova porque não era bom nas aulas de interpretação e que aquilo tudo era apenas o mundo conspirando para que eu tirasse mais uma nota baixa na prova. E falo a verdade. As minhas provas eram divididas em sessões: interpretação de texto, gramática, literatura e redação. Quando recebia minha prova eu coletava alguns erros nas outras três partes que somavam com um quase zero em interpretação textual.
Nada era mais assustador para mim, quando minha professora de português anotava no quadro as páginas do exercício do dia e eu já arregalava os olhos pensando: "eu acho que isso é exercício de interpretação", e logo em seguida quando tirava meu livro da bolsa e descobria que meu pensamento anterior era verdade, eu ficava extremamente ansioso e me entediava rapidamente. Meu prédio do EF tinha dois andares e eu estudei no último por três dos quatro anos lá dentro. Quando tínhamos aulas de interpretação de texto eu me levantava, ia ao banheiro no primeiro andar ou beber água no térreo, tudo para que eu permanecesse mais tempo nos corredores. Isso quando a professora não falava que nos liberaria só se terminássemos nossos exercícios ou que estes valiam nota. Aí eu me esforçava para ser o mais mecânico o possível.
Também não serei hipócrita e não afirmar que gostava de fazer os exercícios em dupla simplesmente porque eu conversava a aula toda e me apoiava no meu amigo que sempre conseguia responder de forma que a professora aceitasse. Eu não tinha que responder ou quebrar minha cabeça com interpretações que não me interessavam. Mas também nada me incomodava mais do que assistir uma pessoa interpretar um texto da forma mais errada que eu acreditava que poderia ser, mas ainda assim era o melhor. Eu me roía de ansiedade porque eu era prepotente o suficiente em acreditar que eu faria melhor. 
Nessas aulas, o que eu mais odiava ainda era esse intervalo de tempo exato chamado "a correção". Tudo se resumia na correção. Eu não gostava das aulas de interpretação de texto porque eu nunca conseguia responder da forma certa e na hora da correção nada gelava mais meu sangue quando a professora apontava o piloto (ou pincel atômico como elas diziam) na minha direção e nada me fazia querer desaparecer mais ainda quando a professora entortava o nariz quando eu falava a minha resposta. Eu simplesmente me punia demais.
Na época, eu queria simplesmente poder interpretar o texto do jeito que eu acreditava estar interpretando bem e não queria ser resumido a responder sistematicamente aquelas respostas chatas. Onde? Quando? Como? Quem? Eu queria não ser reprovado porque eu achava que o personagem estava na verdade se sentindo triste e não confuso ou que eu acreditava que um texto poderia acontecer em épocas diferentes e não perder o sentido. Eu queria pode pensar out of the box, como se diz. Eu havia percebido isso pela primeira vez quando falei para minha professora de português "Eu queria interpretar do jeito que a senhora espera, mas eu não consigo" e ela respondeu "Estude mais". Isso me destruía. Não queria que me deixassem interpretar texto porque eu não gostava do jeito como eu o fazia.
Em 2012 decidi que iria pensar "dentro da caixa", e foi quando pedi ajuda a uma amiga minha com materiais ou qualquer coisa que me mostrasse como eu deveria responder para que eu conseguisse me dar bem no meu ano de vestibular. E foi então que aprendi a "interpretar bem".
Hoje, cinco anos depois de ter me formado no EF e dois anos depois do Ensino Médio, eu ainda não consigo compreender o motivo pelo qual avaliam a interpretação textual de um aluno a partir de padrões prontos. Não é esperado que os alunos consigam compreender o texto, mas que eles consigam compreender o texto da mesma forma que muitos o compreendem. Já me falaram que a importância é gerar no aluno o raciocínio lógico-criativo através desses exercícios e que eles precisam de orientação para conseguirem andar nos seus próprios pés. 
Acredito que aula de interpretação de texto se soma ao grupo de problemas que justificam acreditar que o modelo de escola hoje em dia passa por uma crise. A escola (tradicional) não é um lugar onde nasce a criatividade, é uma fábrica cinza de pensamentos prontos onde os alunos que tiram as melhores notas não são os mais inteligentes e sim os que conseguem se adaptar ao sistema. Nessa lógica que a escola vive hoje, nós deixamos presos em recuperações e reprovações essas possíveis mentes criativas que em frente a essas dificuldades acreditam que há realmente algo de errado com elas e não com o sistema.
Não fiquei de todo traumatizado. Não tenho medo de ler um jornal e pensar, não tenho medo de ser crítico e curiosamente hoje em dia uma das coisas que eu mais gosto de fazer é poder escrever resenhas para meu blog literário e poder de fato "interpretar" meus textos. Ainda acredito que não os faço da maneira mais correta o possível e há muita gente que lê o que escrevo que diz que não sei interpretar. Mas eu tenho esse pequeno espaço na internet que durante meu ensino médio e até hoje é onde posso escrever o que penso e o que acho sobre todos os livros que leio sem ter uma professora na minha frente entortando o nariz.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

"O Apanhador no Campo de Centeio" por J. D. Salinger - A resenha

The Catcher In The Rye
J. D. Salinger
Little, Brown and Company
214 páginas
(1951)

O livro
Holden Caulfield é um jovem de 17 anos estudante de uma renomada escola para rapazes, a Pencey Prep na Pennsylvania. Aparentemente nada em sua vida deu certo. Fora expulso da Pencey e não deveria retornar para lá após o recesso das festas de fim de ano, o que seria para ele a quarta-feira como seu último dia lá. Após uma briga com seu colega de quarto ele decide ir embora dias mais cedo e após olhar para trás no corredor, enquanto estava indo embora, e gritar "Sleep tight, ya morons" para que todos no prédio pudessem escutar, ele vai à estação pegar um trem para Nova Iorque.
Em Nova Iorque que conhecemos as pertubações e intrigas vividas por Holden na sua cidade e o medo que vive de estar só e da eminente rejeição dos seus pais por ter sido expulso de mais um colégio.

A escrita
"O Apanhador no Campo no Centeio" é normalmente mencionada por ter um vocabulário pesado e descrições desnecessárias que fizeram com que o livro fosse banido em alguns países e se tornasse o mais censurado e banido nos colegiais (high schools) dos Estados Unidos.
Contudo, apesar de ter sim um vocabulário cheio de "palavrões" assim por dizer, eles não têm a mesma reprovabilidade hoje. Salinger utiliza vários termos comuns do inglês coloquial à época como "flit"-homossexual, "phony"-hipócrita e "give her the time"-ter relações sexuais, e são esses termos que criaram essa reprovação e má recepção inicial que o livro recebeu ao ser publicado nos EUA em 1951.
O livro foi publicado no Brasil em 1965 - Em Portugal apenas em 2011 sobre o título "À Espera no Centeio" e nas várias traduções, os tradutores passaram pelo grande desafio de transmitir os trejeitos e erros gramaticais de Holden e de sua narrativa.

O personagem
Holden é pertubado. Isso foi a única coisa que eu conseguia pensar sobre ele nos primeiros momentos. As suas pertubações contudo não são tão ultrapassadas, elas são comuns entre as pessoas e viajam pelo tempo junto com o livro que até hoje é consagrado como um dos 100 melhores livros da língua inglesa. O que há de mais atual do que um jovem que não consegue se adaptar nas escolas? Ou quem não sabe exatamente o que quer fazer da vida? Caulfield é para si seu próprio inimigo. A sua auto-crítica e sua apatia o tornam quase um sociopata. Para ele todas as pessoas são hipócritas, fazem cenas e são artificiais, e foi com esse pensamento que ele brigou com seu colega de quarto, Stradtler, simplesmente por ele ter saído com uma antiga amiga sua, Jean. E para Holden, Stradtler não era bom o suficiente para ela.

O enredo
O enredo segue um ótimo ritmo aliás. Desde a Pencey Prep até o final do livro ele passa por eventos que vão nos definindo quem é exatamente Holden e o que ele quer. As suas doenças ficam em destaque cada vez que ele interage com os outros personagens e isso é o que eu achei mais fascinante no livro. Salinger consegue construir essas cenas fantásticas que eu não pude evitar de sair marcando no livro todo. A capacidade do autor de conseguir criar na mente dos seus leitores esses cenários é notável. Não só marquei passagens favoritas como cenas inteiras.
You never saw such gore in your life. I had blood all over my mouth and chin and even on my pajamas and bathrobe. It partly scared me and it partly fascinated me. All that blood and all sort of made me look tough. I'd only been in about two fights in my life, and I lost both of them. I' not too tough. I'm a pacifist, if you want to know the truth. (pp. 45-46)
Você nunca viu tanto sangue na sua vida. Eu tinha sangue pela boca e no queixo e até no meu pijama e no roupão. Isso meio que me assustava e me fascinava. Todo aquele sangue e tudo aquilo me fazia parecer mais durão. Eu só estive em umas duas brigas na minha vida, ambas eu perdi. Eu não sou durão. Eu sou um pacifista, se você quer saber a verdade.
Não poderia contudo terminar esta resenha sem mencionar uns fatos bizarros envolvendo assassinos que dizem ter sido influenciados por "The Catcher In The Rye". Por exemplo, o assassino de John Lennon lia este livro minutos antes de matá-lo e o atirador que tentou matar o presidente norte-americano Ronald Reagan também tinha feito a mesma coisa, afirmava que havia tirado do enredo a ideia de matar o então presidente. E devido a esses fatos que o livro ganhou boa parte de sua fama na cultura popular, como por exemplo em um episódio do desenho animado "South Park", "A Historia de Scrootie Sodomita".

Conclusão
Apesar de ter comprado esse livro mais fascinado pelo preço e pela história que envolve o livro, eu me fascinei pela história. Fiz sete marcações num livro de duzentas páginas, tem muito livro que leio que pouco me importa as cenas ou citações do autor, mas eu queria poder pegar o livro e retornar ao que eu acredito ser minhas cenas favoritas.
Contudo, houve vários momentos que o comportamento do personagem me deixava cansado. Se não fosse um livro da década de cinquenta, eu diria que era mais um drama adolescente - exagero meu. Havia aqueles momentos de vazio no texto que não me animava continuar a leitura, houve dias que lia trinta páginas e deixava para depois. Este livro é um livro one-take, pegou e leu. Refletir demais sobre ele durante a leitura não vale de muita coisa, mas ao fim não há nada mais gratificante que saber que você leu um livro do gabarito que ele carrega desde o ano de lançamento.

O livro 8/10 - Serão mais as críticas do que a própria proposta do livro em si que o farão querer ler o livro.
A escrita 8/10 - Os vícios de linguagem e o xingamento desnecessário podem incomodar bastante
O personagem 10/10 - Um dos personagens mais complexos e bem construídos que já li na vida.
O enredo 10/10 - As suas várias intrigas e como ele se relaciona com as pessoas são o que realmente fascina, o envolvimento da história não foi uma das minhas coisas favoritas sobre o livro, mas ainda merece o mérito.
Total 9/10 - LEIA JÁ!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

"Os Treze Porquês" por Jay Asher - A resenha

Thirteen Reasons Why

Jay Asher
Penguin
289 páginas

O livro
Clay Jensen é um garoto com poucas preocupações além das que todo garoto no colegial deveria ter. Até que um dia ele encontra na soleira da sua porta um pacote do correio lacrado. Ao abrir a caixa ele descobre sete fitas cassetes, cada uma com ambos lados numerados exceto por uma que tinha apenas 13. Ele corre para a garagem da sua casa onde encontra uma caixa de som velha com toca-fitas e reproduz a primeira fita, lado A. Quando toca, ele escuta a voz de Hannah Baker, uma garota da sua escola que havia se suicidado há alguns dias. Na gravação ela explica que cada lado das fitas é uma de suas treze razões por ter desistido de viver e se você recebeu a caixa é porque você é uma delas. Além de haver alguém os observando, então caso um deles desistam ou joguem fora as fitas, elas serão divulgadas para todos, mostrando ao mundo o que cada um é realmente.

A escrita
Eu simplesmente não conseguia largar o livro. Jay Asher conseguiu fazer esse formato novo que só com a sinopse é capaz de instigar a curiosidade do leitor.
O mais genial e curioso do livro é a narrativa simultânea desenvolvida pelo autor. A história é narrada tanto pelo Clay Jensen quanto por Hannah Baker através das gravações. Ao que Clay vai escutando as gravações ele vai reagindo e isto é possível porque as duas narrativas foram escritas em momentos diferentes. Asher escreveu primeiramente os 13 motivos de Hannah, criando uma narrativa, e depois escreveu as reações de Clay, e as mesclando ao longo das gravações, entregando uma reação imediata dele.

Os personagens
Clay Jensen simplesmente parece um cara muito legal, e quando você escuta o primeiro motivo - Justin Foley, seu primeiro beijo - parece inconcebível a ideia de que ele possa ter feito algo que tenha levado uma garota a desistir da vida. Dias antes de receber a caixa ele acha um mapa dentro de seu armário no colégio e ele simplesmente guarda para depois descobrir que é um mapa de imersão da história de Hannah Baker.
Agora eu não vou deixar de notar aqui que Hannah parece ser uma menina muito fechada e das várias críticas que o livro recebe, desde 2007, seu ano de lançamento, até os dias de hoje, é que parece que ela tenha se matado "de graça" por assim dizer. É difícil realmente para muitos compreender a mente de uma adolescente e o que é que pesa na sua vida social. Mas é aqui que eu realmente acho que infunda muitas dessas críticas. São fatos que não se repetem, mas mesmo assim muitos podem se identificar com muitos desses motivos e com a vida da personagem.

O enredo
"Thirteen Reasons Why"/"Os Treze Porquês" foi um livro banido nos EUA. Em vários estados norte-americanos sua venda fora proibida por se acreditar que o livro poderia estar induzindo jovens a cometer suicídio. O que se mostrou na prática totalmente oposto. O livro se tornou popular por ter mostrado a vários adolescentes que há um lado melhor de toda história. O livro levou vários a repensar seus pensamentos suicidas a partir de coisas que Hannah Baker poderia ter feito.
Para despertar mais ainda a sua curiosidade aqui vai um vídeo no YouTube com a gravação da primeira fita lado A.



Conclusão
O livro é especial pelo esforço que o autor teve. Eu gostei de tudo que encontrei no livro e minhas expectativas foram além. Cada capítulo me levava a ler o próximo e eu simplesmente me conectei com Clay, o personagem principal, e queria poder da mesma forma "estar lá" por Hannah. O livro é capaz de despertar nas pessoas um sentimento de compaixão não muito esperado. Aqui vão os resultados

O livro  10/10 - Eu descobri o livro na Banned Books Week no meu curso de inglês no ano passado e desde então eu criei essa hiper curiosidade de lê-lo. O vídeo no youtube, a sinopse e as resenhas pela internet são suficientes para fazer com que você queira lê-lo até o final, mesmo sem ter lido uma única página do livro.

A escrita 10/10 - A narrativa simultânea é uma das características únicas do livro que te levam a virar todas as páginas. O livro não teria o mesmo efeito se tivesse sido escrito de outra forma por um outro autor. Asher sabe muito bem escrever um livro.

Os personagens 9/10 - Drama adolescente pode confundir muita gente. As relações sociais são complexas e ainda assim é isso que leva o livro a ser genial. Hannah Baker e cada um dos treze porquês podem facilmente se relacionar com várias personalidades diferentes esperada pelo autor.

O enredo 10/10 -  Jay Asher fez um grande trabalho pré-livro. O autor entrou em contato com várias pessoas para compreender melhor o que se passa na mente de uma adolescente, quais são suas preocupações e entender melhor a psiquê de um suicida.

Total 10/10 - Esse livro é bom demais! Uma leitura obrigatória para qualquer um e principalmente para aqueles que passam por dificuldades nas escolas.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Organize suas leituras, filmes e séries com Evernote

Meu irmão e eu somos grandes fãs de filmes de suspense e terror. Nessas últimas férias, nós decidimos fazer uma maratona de filmes de terror com os filmes recentes que fizeram sucesso e claramente os filmes clássicos que inspiraram as novas produções. Na mesma época eu estava apresentando para o meu irmão o maravilhoso mundo das notas, e claro que estou falando do Evernote. Eu sou um grande usuário do serviço de sincronização de notas multiplataforma mais popular do mundo. Então ele decidiu criar um caderno para organizar todos os nossos filmes favoritos de terror e, desde o momento, os que nós assistimos.

Ainda estamos adicionando novos filmes

Então, aqui vai a dica. Uma das melhores funções do Evernote é como ele faz busca dentro de suas notas. Ele consegue achar simplesmente qualquer coisa dentro de qualquer coisa, além dos filtros baseados nos cadernos e nas etiquetas criadas pelo usuário. Logo, realmente, não há uma forma certa de usá-lo, mas apenas várias maneiras geniais de aproveitá-lo ao máximo. Criar notas simples com poucas informações e mesmo assim concisas, você criará a melhor forma de recorrer ao seus bons filmes.

Como nós fizemos

Cada nota é um filme que assistimos, é como se elas fossem várias figurinhas. Em cada nota há uma ficha técnica do Wikipédia que nos informa o ano em que o filme foi produzido, qual seu título original, quem é o diretor, o elenco principal, etc. Informações básicas que nos auxiliem a conectar um filme com o outro. Assim se eu pesquisar o diretor "Ariel Schulman" no meu Evernote, eu terei "Atividade Paranormal 3" e "Atividade Paranormal 4", deixa forma eu tenho como criar uma conexão entre meus filmes favoritos. Além disso, em algumas de nossas fichas, nós adicionamos nossos trechos favoritos, como 2h16min de filme x ou 47min de filme y, também há pequenas anotações como, "Provavelmente inspirado em 'Uma Noite Alucinante'".
E essa fórmula funciona tão bem com séries e livros. Nos livros, você pode ir guardando as fichas técnicas deles e fazer pequenos fichamentos para não se esquecer dos pequenos detalhes favoritos, ou quem sabe escrever um resenha de 5 linhas e poder comparar com sua opinião sobre o livro daqui a um ano ou mais. Se for um livro em língua estrangeira poderá anotar na ficha um pequeno vocábulo das palavras presentes  naquele livro que até então você não sabia. Se guardar a lista com os personagens principais você poderá encontrar fatos curiosos, como a frequência que um nome é utilizado pelos autores, como MariaJoãoAna. Realmente não há limites.
Não é uma dica necessariamente minha, mas eu achei esse caderno que meu irmão tão interessante que resolvi compartilhar. O Evernote é um aplicativo muito bom para tudo e desperta a criatividade.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

"Fim" por Fernanda Torres - A resenha

Fim

Fernanda Torres
208 páginas
Companhia das Letras

O livro
Não é necessariamente sobre o fim, mas sobre vários começos e meios de cinco amigos, Álvaro, Ciro, Sílvio e Ribeiro e Neto, homens já na bela idade que rememoram suas grandes aventuras e intrigas, um grande balanço de suas vidas e suas reflexões sobre o fim do outro. Um livro carioca. Bem carioca. Tão carioca que só "a" Fernanda Torres sentada na praia, como o pão de açúcar ao fundo, para poder te dar uma ideia do que esperar sobre o livro.


A escrita

"Fernanda Torres em seu novo papel: o impresso", foi assim que a Companhia das Letras divulgou a estreia da consagrada atriz no mundo literário. Com uma longa carreira na atuação, a carioca Fernanda resolveu arriscar com um papel e uma caneta (ou um computador, tanto faz). A narrativa de "Fim" é sensacional. É de uma leveza, uma descontraída junção de palavras que criou uma história por muitas vezes cômica na mesma medida que ela é trágica. Ela nos arranca do conforto para refletir sobre a vida e da mesma forma nos faz rir e rir livremente.
Agora, eu havia comentado com meu pai sobre um outro lado, acho eu até um pouco vicioso da autora de ser extremamente carioca. Fernanda é conhecida na TV por seu sotaque forte ou por personagens que vivem sempre o sonho fluminense de morar na zona sul do Rio. Uma coisa que me chama a atenção e que me chama a atenção é o uso dos artigos antes dos nomes. Aqui eu posso estar levantando um tapete que talvez merecesse acumular poeira, pois os artigos antes dos nomes é algo bem próprio e bem regional. No nordeste não usamos e provavelmente isso sem dúvidas é o motivo pelo qual li o livro todo com uma sobrancelha levantada toda vez que lia o Sílvio fez isso, o Álvaro comeu aquela, o Ribeiro é um mala. E isso é incomum nos livros num geral também, pois há regras para o uso. Mas vou levantar uma bandeira branca, pois o livro É CARIOCA e ela faz questão de levantar essa bandeira ao mencionar os bairros da cidade como numa novela do Manoel Carlos. E ainda assim eu adoro isso.
Talvez por pura nostalgia. Tenho família no Rio e viajava para lá todo santo ano. Viajei para lá tantas vezes que parei de contar aos 12 anos. Costumava ficar lá quase 2 meses e eu e meu irmão costumávamos trocar os sotaques e os jeitos para evitar chamar atenção, principalmente quando íamos para o Centro (principalmente à Uruguaiana) onde os vendedores não são tão agradáveis com outsiders, sem falar os comentários do tipo "Ah, eu tenho um parente que veio de lá". Simplesmente adotei a cidade natal do meu pai para mim. Até costumo brincar dizendo que assim que Recife for para debaixo d'água não irei para longe de casa, pois sempre terei o Rio de Janeiro.

Os personagens
São cinco homens nascidos de uma mente genial. É incrível como eles são. Todos eles tem  seus gênios fortes que fazem você se esquecer que saíram de fato da cabeça de uma mulher. Seus hábitos e pensamentos são bem próprios da classe e isso só destaca a incrível capacidade de Fernanda Torres de criação. Eles são vivos.
Agora vou levantar um cartão para Sílvio. Eu odeio Sílvio. Sílvio é um c# de pessoa, eu simplesmente o achei excessivo. Uma pessoa não tem como ser assim. Eu não vejo a beleza em ser Sílvio. Não entendo o porquê a sua vida mereça um mérito e tudo nele me incomoda. O jeito como ele objetifica as pessoas, como vive sem limites e é por isso que o acho perfeito. Sílvio é horrível o suficiente para que o odiasse como alguém que eu conhecesse.
Álvaro sim é o meu favorito. Gosto de sua ironia:
Não separo lixo, não reciclo, jogo guimba no vaso, uso aerossol, tomo longos banhos quentes e escovo os dentes com a torneira aberta. Dane-se a humanidade. Não vou estar aqui para assistir. (Posição 138, kindle)
Os cinco compartilham um tipo de amizade invejável. Eles são bem divergentes e ainda assim possuem esse elo invejável por qualquer um. Eu adoraria ter amigos como eles (Exceto Sílvio, não gosto dele :P).

O enredo
Os capítulos se dividem em Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro. Cada capítulo conta história do personagem e se sucede com a morte de outro. Ao longo da história de uns você aprende sobre os outros e são nessas memórias que nós construímos os personagens através de sua intimidade e das lembranças que os seus amigos têm deles.

Concluindo
O livro "Fim" talvez não seja para todos. Acredito que ele necessita de algo a mais para fazer com que as pessoas queiram lê-lo. E isso é algo que faz com que eu fique faltando palavras para conseguir descrevê-lo que me incomoda. Não é realmente um livro genial, mas uma boa leitura do livro de uma grande atriz. Fica aqui meus resultados:

O livro 8/10 - Eu achei o livro meio que um "material Globo". Seu deboche e sua pouca autocensura provavelmente não o levaria a uma adaptação como uma minissérie no canal e isso pode reafirmar para muitos que Fernanda Torres é de fato uma ótima autora e que aguardamos por mais obras.

A escrita 7/10 - Gostei muito da fluidez da leitura, mas ainda a penalizo pelos seus vícios linguísticos.

Os personagens  6/10 - Eu os acho vazios. Por mais que eu acredite que ela conseguiu construir ótimo personagens, eu ainda os acho fúteis, uma futilidade cansativa que se iguala a uma piada contada excessivamente. Eles vivem uma falsa boêmia, acreditam apenas em si e as suas falta de humanidade, acredito eu, são excessivas.

O enredo 10/10 - Sim, aqui vai um 10 porque eu gostei muito do jeito como o livro é construído. Gostei muito da história e das intrigas e, longe de qualquer preconceito, acredito sim que seja uma leitura que valha a pena.

Total 8/10