quinta-feira, 5 de junho de 2014

"O Apanhador no Campo de Centeio" por J. D. Salinger - A resenha

The Catcher In The Rye
J. D. Salinger
Little, Brown and Company
214 páginas
(1951)

O livro
Holden Caulfield é um jovem de 17 anos estudante de uma renomada escola para rapazes, a Pencey Prep na Pennsylvania. Aparentemente nada em sua vida deu certo. Fora expulso da Pencey e não deveria retornar para lá após o recesso das festas de fim de ano, o que seria para ele a quarta-feira como seu último dia lá. Após uma briga com seu colega de quarto ele decide ir embora dias mais cedo e após olhar para trás no corredor, enquanto estava indo embora, e gritar "Sleep tight, ya morons" para que todos no prédio pudessem escutar, ele vai à estação pegar um trem para Nova Iorque.
Em Nova Iorque que conhecemos as pertubações e intrigas vividas por Holden na sua cidade e o medo que vive de estar só e da eminente rejeição dos seus pais por ter sido expulso de mais um colégio.

A escrita
"O Apanhador no Campo no Centeio" é normalmente mencionada por ter um vocabulário pesado e descrições desnecessárias que fizeram com que o livro fosse banido em alguns países e se tornasse o mais censurado e banido nos colegiais (high schools) dos Estados Unidos.
Contudo, apesar de ter sim um vocabulário cheio de "palavrões" assim por dizer, eles não têm a mesma reprovabilidade hoje. Salinger utiliza vários termos comuns do inglês coloquial à época como "flit"-homossexual, "phony"-hipócrita e "give her the time"-ter relações sexuais, e são esses termos que criaram essa reprovação e má recepção inicial que o livro recebeu ao ser publicado nos EUA em 1951.
O livro foi publicado no Brasil em 1965 - Em Portugal apenas em 2011 sobre o título "À Espera no Centeio" e nas várias traduções, os tradutores passaram pelo grande desafio de transmitir os trejeitos e erros gramaticais de Holden e de sua narrativa.

O personagem
Holden é pertubado. Isso foi a única coisa que eu conseguia pensar sobre ele nos primeiros momentos. As suas pertubações contudo não são tão ultrapassadas, elas são comuns entre as pessoas e viajam pelo tempo junto com o livro que até hoje é consagrado como um dos 100 melhores livros da língua inglesa. O que há de mais atual do que um jovem que não consegue se adaptar nas escolas? Ou quem não sabe exatamente o que quer fazer da vida? Caulfield é para si seu próprio inimigo. A sua auto-crítica e sua apatia o tornam quase um sociopata. Para ele todas as pessoas são hipócritas, fazem cenas e são artificiais, e foi com esse pensamento que ele brigou com seu colega de quarto, Stradtler, simplesmente por ele ter saído com uma antiga amiga sua, Jean. E para Holden, Stradtler não era bom o suficiente para ela.

O enredo
O enredo segue um ótimo ritmo aliás. Desde a Pencey Prep até o final do livro ele passa por eventos que vão nos definindo quem é exatamente Holden e o que ele quer. As suas doenças ficam em destaque cada vez que ele interage com os outros personagens e isso é o que eu achei mais fascinante no livro. Salinger consegue construir essas cenas fantásticas que eu não pude evitar de sair marcando no livro todo. A capacidade do autor de conseguir criar na mente dos seus leitores esses cenários é notável. Não só marquei passagens favoritas como cenas inteiras.
You never saw such gore in your life. I had blood all over my mouth and chin and even on my pajamas and bathrobe. It partly scared me and it partly fascinated me. All that blood and all sort of made me look tough. I'd only been in about two fights in my life, and I lost both of them. I' not too tough. I'm a pacifist, if you want to know the truth. (pp. 45-46)
Você nunca viu tanto sangue na sua vida. Eu tinha sangue pela boca e no queixo e até no meu pijama e no roupão. Isso meio que me assustava e me fascinava. Todo aquele sangue e tudo aquilo me fazia parecer mais durão. Eu só estive em umas duas brigas na minha vida, ambas eu perdi. Eu não sou durão. Eu sou um pacifista, se você quer saber a verdade.
Não poderia contudo terminar esta resenha sem mencionar uns fatos bizarros envolvendo assassinos que dizem ter sido influenciados por "The Catcher In The Rye". Por exemplo, o assassino de John Lennon lia este livro minutos antes de matá-lo e o atirador que tentou matar o presidente norte-americano Ronald Reagan também tinha feito a mesma coisa, afirmava que havia tirado do enredo a ideia de matar o então presidente. E devido a esses fatos que o livro ganhou boa parte de sua fama na cultura popular, como por exemplo em um episódio do desenho animado "South Park", "A Historia de Scrootie Sodomita".

Conclusão
Apesar de ter comprado esse livro mais fascinado pelo preço e pela história que envolve o livro, eu me fascinei pela história. Fiz sete marcações num livro de duzentas páginas, tem muito livro que leio que pouco me importa as cenas ou citações do autor, mas eu queria poder pegar o livro e retornar ao que eu acredito ser minhas cenas favoritas.
Contudo, houve vários momentos que o comportamento do personagem me deixava cansado. Se não fosse um livro da década de cinquenta, eu diria que era mais um drama adolescente - exagero meu. Havia aqueles momentos de vazio no texto que não me animava continuar a leitura, houve dias que lia trinta páginas e deixava para depois. Este livro é um livro one-take, pegou e leu. Refletir demais sobre ele durante a leitura não vale de muita coisa, mas ao fim não há nada mais gratificante que saber que você leu um livro do gabarito que ele carrega desde o ano de lançamento.

O livro 8/10 - Serão mais as críticas do que a própria proposta do livro em si que o farão querer ler o livro.
A escrita 8/10 - Os vícios de linguagem e o xingamento desnecessário podem incomodar bastante
O personagem 10/10 - Um dos personagens mais complexos e bem construídos que já li na vida.
O enredo 10/10 - As suas várias intrigas e como ele se relaciona com as pessoas são o que realmente fascina, o envolvimento da história não foi uma das minhas coisas favoritas sobre o livro, mas ainda merece o mérito.
Total 9/10 - LEIA JÁ!

Um comentário:

  1. Muito boa a resenha, tava pensando em ler em inglês, mas essas expressões da época como não conheço acho melhor o traduzido mesmo. Essa capa é linda demais.


    Abs

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