terça-feira, 23 de julho de 2013

Proíbe-se sonhar!

Muitas vezes eu cheguei a me questionar se eu não acabei criando uma bolha onde tudo é possível. Eu crio as expectativas, as situações, os personagens, o local, o ano e as emoções. Faço de tudo para acreditar em algo melhor. Talvez minha mente utópica seja de maioria abominável, a única parte aceitável é aquela onde penso sobre ganhar dinheiro para comprar a minha independência num mundo governado por uma geração corrompida.


Sim, eu acredito que façamos parte de uma geração de mudanças. Entre as décadas de 1910 e 1920, meu bisavô Gonçalves Pastich chegou no país para herdar uma fazenda de um parente que há muito tempo havia decidido deixar Portugal encantado pelos relatos de imigrantes que se deram bem em fazendas no norte. Já os pais dos meus avós, Daniel e Adelcina Capella, emigraram de uma pequena cidae do norte de Portugal para uma vida de oportunidades do outro lado do oceano. Na segunda geração da família no país as ambições são inibidas por uma ótima educação que ainda assim fora afetada por crenças populares como a abominação do pensamento crítico, a censura como forma de proteção e a urgência do acúmulo de riquezas. Os sonhos tornaram possível que eu estive aqui, morando na Avenida Rosa e Silva, número 1438 e me alimentando de pensamentos que meus pais acreditam serem ruins.


Comecei a pensar de como seria a minha vida adulta no meu primeiro ano no Ensino Médio. Sabe quando você começa a pensar precocemente sobre o que você vai querer ser para que você não desperdice seu tempo estudando para ao vestibular errado. Eu acredito na viabilidade dos desejos porque um dia eu ouvi alguém falar assim. Se todos fizéssemos o que queremos, um dia todos nós seremos igualmente valorizados e não teríamos que lidar com garotas que andam de bolsa de grife, salto alto, laicra rosa e uma camisa estampada enquanto você passeia num shopping.
Sobre tudo que eu acredito - talvez influenciado sobre todos os personagens, cenários e vitórias que vivem na minha mente - eu acredito na criatividade!
É isso que nossa geração é. As áreas humanas do conhecimento são cada vez mais valorizadas pela nossa geração. Quantos de nós não se envolveram com amigos que fizeram um corte de cabelo individual, ou que se vestiram diferente, ou falavam de uma maneira que prendia a sua atenção. Tive amigos que me contavam sobre o fantástico cinema como arte, outros que falavam sobre sua inovações tecnológicas, alguns contavam sobre soluções tão absurdas que eu poderia jurar que eu colecionei o maior número de amigos loucos durante todo esse tempo. Nós largamos os livros didáticos, aquelas fórmulas matemáticas decoradas, aquela gramática reguladora e abraçamos o imediato.
Quando penso eu o faço!
Provavelmente isso resume bastante o que fazemos sobre nossas decisões nesta vida. Frutos de subculturas como os hippies aos metaleiros, nós deixamos de ser subculturas e passamos a ser a forma padrão de pensar. Ser contra o criativo é voltar aos tempos em que a Igreja determinava se olhar para debaixo de uma caixa emborcada era um pecado.


Nossa vida é planejada. Planejamos que um dia teremos um plano, até lá o mais saudável para mim é ser o que eu quero fazer.


Fazer 18 anos para mim marca um momento em que finalmente adquiro uma responsabilidade sobre meus atos e decisões. Alguns tempos atrás isso significaria que eu precisaria me casar, arrumar um emprego e viver assalariado até o fim da minha vida. Hoje, eu quero aprender! Quero entender sobre tudo que está ao meu redor. Quero moldar o mundo e ser moldado por ele baseado nos vários "Marcos" que vivem na minha cabeça.


Estudar é uma das coisas que mais me acalmam. Não falo daquelas obrigações chatas do colégio. Falo estudar filosofia para entender a magia, a morte, as pessoas e logo em seguida pegar um livro sobre a política pré-renascentista e mais adiante agarrar-me a um livro de um autor clássico só porque me interessei sobre a Inglaterra na época da revolução industrial. Buscar sobre coisas que o interesse não deveria ser banalizado tão gratuitamente como nossos pais e mestres fazem. As faculdades nos auxiliam a nos descobrir de uma forma que nunca achei que fosse possível. Um dia larga-se os livros de matemática e você vai seguir em diante para ser um artista, um arquiteto, um engenheiro, um programador, um biólogo ou um tradutor quem sabe...


No meu mundo se acredita que o tempo que passamos livre é sagrado. Aquele pensamento que tempo livre destrói o conhecimento é o qual de fato devemos banir das nossas vidas. Acredito na reflexão, no descanso. Todos nós merecemos nos livrar de alguns poucos compromissos para que nós possamos aproveitar a vida. Os amigos,a família, a paisagem, a cidade e aqueles bons livros que andam de esperando há tanto tempo.


Meu pai um dia ainda me criticou por estar de férias. Estou até hoje sem saber reagir. Talvez ele esteja falando do tempo em que se crescia algumas décadas nos 60 segundos anteriores à hora do dia do seu aniversário de 18 anos. Realmente aos 18 não estou me mudando da minha cidade como ele fez, aos 20 não penso em ter filhos e aos 25 não tenho planos de estar sentado numa mesa pagando contas.


Marcos Capella, eu, este aqui que vos escreve, só viverá alguns anos. Mais tempo que um cão e bem menos tempo que uma tartaruga. Até que Marcos morra, e eu adote outra persona, eu quero aprender a viver e morrer sorrindo, diante daquele filmizinho auto-biográfico que dizem passar no último momento da vida , satisfeito.


Talvez eu esteja decepcionando alguns pelas decisões que tomo ou deixo de tomar, mas eu sei que para mim, aos 18 anos é isso que eu quero fazer. Eu quero ser aquele aluno de Direito que chega atrasado por causa do ônibus, que dorme na aula de sociologia, come besteira e vive correndo para cima e para baixo na biblioteca atrás de livros que me dizem serem inúteis.


Um dia eu serei grande. Todos nós seremos. Eu acredito nisso. Só gostaria de crescer sem ter uma sociedade me empurrando para baixo com a mão me ditando passo a passo da forma como se viveu 40 anos atrás.

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