sábado, 16 de fevereiro de 2013

Até meu primeiro dia na universidade

Eu nunca mais havia escrito nada sobre o meu cotidiano. Costumava fazer isso costumeiramente aqui ao invés do meu blog pessoal morto, pelo simples fato do número de acessos. Pensei em simplesmente fazer um vídeo, mas estou a fim de escrever.
Como podem ter percebido a minha leitura de "Dragões de Éter - Caçadores de Bruxas" por Raphael Dracoon está demorando para sair, mas é por um bom motivo.
Vou situar os novos leitores sobre o que me levou até onde estou.
No ano passado eu fiz o famoso terceirão. Aquele momento na sua vida escolar em que você se sente importante por ser o ganha pão do seu colégio. Porque convenhamos... O único motivo para as escolares promoverem tanto o bem estar dos veteranos do ensino médio é porque são eles que irão passar nos vestibulares. Quem é o pai que vai colocar o filho numa instituição que tem 25% de aprovação?
Ao longo do último ano eu refleti bastante sobre a minha vida futura. Sempre tive a intenção de estudar Direito. Apesar de desprezar a profissão de Advogado, por mais que ler um bom John Grisham me anime bastante, eu ainda assim admiro mais as outras profissões que o curso pode me oferecer. Eu pensei sobre como vai ser a minha vida, o que eu acho um processo natural para qualquer um no colegial, mas eu resolvi fazer isso no último ano. Por vários momentos a ideia de viver num escritório trabalhando para alguém me afetou muito. Lemos tanto em várias revistas falando que os jovens atuais irão construir um mundo diferente sem todos os conceitos da sociedade do século XX. Nessa vista, eu faria um curso de TI, artes ou algo bastante reflexivo como filosofia. Mas eu era louco por Direito. Pelo menos era o que eu achava.
A ideia de eu estar indo contra o fluxo do desenvolvimento da nova era seguindo um curso tão tradicional me instigou a vários outros questionamentos. Eu senti que me contradizia. Junto com grandes amigos meus que seguiam a ideia de fazer um curso de engenharia, eu havia descoberto o meu novo objetivo. Iria fazer Engenharia da Computação. 
Iria transformar um hobby  numa profissão. E a concorrência menor para entrar no melhor curso de EdC no Brasil, na UFPE, me fez sentir um peso maior sobre a minha escolha. Na escola eu sempre me dediquei bastante a todas as matérias, dominava todas do meu jeito, exceto biologia. Maldita biologia. Logo estudar para o vestibular de Exatas não seriam tão ruim assim. E foi assim que segui, por quatro meses.
Após ter anunciado a minha "iluminação" para os meus amigos, após mini críticas da alteração e da alegria dos meus colegas que iriam cursar Direito por terem perdido mais um concorrente, havia me animado. Fiz a minha camisa de Fera 2013 como aluno de Exatas e assim segui em frente.
Em junho eu me desiludi com o curso. Durante minha última semana de prova do primeiro semestre eu refleti bastante sobre o que havia escolhido para mim. Se tudo aquilo não havia passado de um mero impulso. E foi assim que aconteceu. Naquele mês de Junho eu desisti de Engenharia e voltei ao meu querido sonho do Direito. Mas meu maior medo era que a minha escolha fosse apenas outro impulso. Não contei para ninguém, simplesmente guardei meu segredo. Só vão saber que eu troquei quando virem meu nome no listão.
Estudei sozinho. Não acredito em cursinhos. Os acho ridículo. Para mim uma boa escola é o suficiente e encher seu horários de aulas e aulas em cursinhos caríssimos só beneficiava os professores de matérias isoladas, não você. E como eu estudava sozinho, não me prendia a matérias que eu "deveria me dedicar mais" que são as matérias de Humanas. Fazia o que meu pai sempre diz, estudar não é uma obrigação é um prazer. E estudava tudo que me interessava. Era bastante eclético, gostava de literatura, redação, matemática, física, química, geografia e história. As matérias exatas são uma loucura, elas abrem a sua cabeça para definição dos fenômenos em teorias que te convidam a testar e as de humanas é simplesmente a boa leitura e a interpretação que eu amo. Nunca sofri para estudar nenhuma das revoluções da história ou sobre reações químicas. Esse controle que eu tinha sobre meu próprio horário tornava a ideia do que "eu vou fazer para o vestibular" um pensamento distante, não uma ação imediata. Eu nunca precisaria correr nas diretorias desses cursinhos para trocar tudo por matérias de humanas... de novo.
Semanas antes do Enem eu falei para os meus amigos que eu estava me dedicando para passar em Direito. Após várias críticas, ainda mais do grupo de alunos de exatas (com sérias tendências nazifascistas!) eu comecei minha temporada de vestibulares, quem para os Pernambucanos começou com o Enem no começo de Novembro até a metade de Janeiro com a segunda fase da UFPE.
Eu vi meus resultados após minhas primeiras provas. Eu estava indo muito bem para quem estudava sozinho. Muitos amigos meus que se mataram nessas fábricas de aprovados começaram a sofrer notas de corte ou ficando abaixo da média nacional, e eu fui seguindo em frente firme e forte, recebendo ótimos elogios dos meus professores, o que me deixou muito animado e com enormes saudades da escola.
Até que o Inep me tirou da jogada.
Fui um dos vários vestibulandos pelo Brasil que sofreram uma correção injusta na prova de Redação. Estudei vários manuais sobre a Redação do Enem, fiz dezenas de redações que entregava semanalmente para minha professora de português que era corretora do Enem, após vários oitos e noves, eu tirei um gigante 640 na redação. Meu mundo caiu. Foi terrível.
Após ter ido tão bem até então eu recebo essa facada. 640 é uma nota inaceitável para quem pretende passar no vestibular com concorrência altíssima, e após dias revisando para o vestibular da UFPE eu vi todas as minhas chances serem jogadas no chão e pisoteados pelo governo. Foi assim que eu me senti. Pela primeira vez vi que vivemos esse sistema falho que nós da Classe Média nos privamos pelo medo. Um medo bem justificado. 
Eu desisti da UFPE, a ideia de estudar mais um ano para entrar numa instituição que não consegue se manter em pé me assustou terrivelmente. Adoraria estudar gratuitamente numa das melhores universidades da América Latina, mas nunca me submeteria a algo sem fundamento. Nunca iria passar mais um ano estudando para no ano seguinte acontecer o pesadelo de novo e ver que joguei dois anos no lixo. 
Semanas antes eu havia passado no vestibular da UNICAP, Universidade Católica de Pernambuco. Tirei uma ótima nota e consegui uma boa colocação. Eu vi meu esforço ser válido. As Universidades da rede Católica (Pontifícias Universidades e Universidades) figuram entre as melhores do país e são as melhores universidades particulares. Por que eu repugnava a ideia de ir para UNICAP?
A culpa criada pela mídia de não fazer parte desse grupo que eles criaram de alunos que conseguiram passar entre milhares faz você querer fazer parte dessa elite estudantil. E culturalmente entrar para uma universidade pública é uma vitória para os membros das Classes B e A e as particulares só são vitória para os que nunca tiveram oportunidades na vida e agora estão tendo.
Uma névoa ao melhor estilo Percy Jackson havia se formado diante dos meus olhos e só depois de refletir sobre essa lógica terrível que engolimos com tanta facilidade, eu pensei em apenas uma frase curtíssima. FODA-SE.
Após você entrar em qualquer universidade a única coisa que vai importar é se você estar fazendo uma boa universidade, independente de ser pública ou particular, você não vai ser lembrado pela sua colocação nos listões, ou quais professores você estudou com, tudo isso é esquecido e apenas lembrado pelos cursinhos que irão usar dos feitos dos seus ex-alunos para conseguirem mais e mais dinheiro para seus bolsos.
Então aqui vai essa dica para você fera. Não se importe com o que vão dizer. Faça o que você sempre quis e do melhor jeito possível, mas não joguem suas oportunidades fora porque alguém falou para você que seus feitos não são os melhores e que há gente lá fora que conseguiu mais do que você.

No meu primeiro dia eu sentir uma alegria enorme. Cresceu do meu coração e se espalhou como uma droga pelo meu sangue. Eu estava tão feliz pois eu sabia, após todos os conflitos pessoais que eu passei, eu sabia que estava fazendo o que queria no lugar que eu queria e eu nunca me senti tão bem. Após meus primeiros passos dentro daquela universidade eu visualizei todos meus próximos cinco anos na universidade, e por aquele mínimo momento eu senti a certeza que eu procurei tanto um ano inteiro.

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