quarta-feira, 16 de abril de 2014

"Fim" por Fernanda Torres - A resenha

Fim

Fernanda Torres
208 páginas
Companhia das Letras

O livro
Não é necessariamente sobre o fim, mas sobre vários começos e meios de cinco amigos, Álvaro, Ciro, Sílvio e Ribeiro e Neto, homens já na bela idade que rememoram suas grandes aventuras e intrigas, um grande balanço de suas vidas e suas reflexões sobre o fim do outro. Um livro carioca. Bem carioca. Tão carioca que só "a" Fernanda Torres sentada na praia, como o pão de açúcar ao fundo, para poder te dar uma ideia do que esperar sobre o livro.


A escrita

"Fernanda Torres em seu novo papel: o impresso", foi assim que a Companhia das Letras divulgou a estreia da consagrada atriz no mundo literário. Com uma longa carreira na atuação, a carioca Fernanda resolveu arriscar com um papel e uma caneta (ou um computador, tanto faz). A narrativa de "Fim" é sensacional. É de uma leveza, uma descontraída junção de palavras que criou uma história por muitas vezes cômica na mesma medida que ela é trágica. Ela nos arranca do conforto para refletir sobre a vida e da mesma forma nos faz rir e rir livremente.
Agora, eu havia comentado com meu pai sobre um outro lado, acho eu até um pouco vicioso da autora de ser extremamente carioca. Fernanda é conhecida na TV por seu sotaque forte ou por personagens que vivem sempre o sonho fluminense de morar na zona sul do Rio. Uma coisa que me chama a atenção e que me chama a atenção é o uso dos artigos antes dos nomes. Aqui eu posso estar levantando um tapete que talvez merecesse acumular poeira, pois os artigos antes dos nomes é algo bem próprio e bem regional. No nordeste não usamos e provavelmente isso sem dúvidas é o motivo pelo qual li o livro todo com uma sobrancelha levantada toda vez que lia o Sílvio fez isso, o Álvaro comeu aquela, o Ribeiro é um mala. E isso é incomum nos livros num geral também, pois há regras para o uso. Mas vou levantar uma bandeira branca, pois o livro É CARIOCA e ela faz questão de levantar essa bandeira ao mencionar os bairros da cidade como numa novela do Manoel Carlos. E ainda assim eu adoro isso.
Talvez por pura nostalgia. Tenho família no Rio e viajava para lá todo santo ano. Viajei para lá tantas vezes que parei de contar aos 12 anos. Costumava ficar lá quase 2 meses e eu e meu irmão costumávamos trocar os sotaques e os jeitos para evitar chamar atenção, principalmente quando íamos para o Centro (principalmente à Uruguaiana) onde os vendedores não são tão agradáveis com outsiders, sem falar os comentários do tipo "Ah, eu tenho um parente que veio de lá". Simplesmente adotei a cidade natal do meu pai para mim. Até costumo brincar dizendo que assim que Recife for para debaixo d'água não irei para longe de casa, pois sempre terei o Rio de Janeiro.

Os personagens
São cinco homens nascidos de uma mente genial. É incrível como eles são. Todos eles tem  seus gênios fortes que fazem você se esquecer que saíram de fato da cabeça de uma mulher. Seus hábitos e pensamentos são bem próprios da classe e isso só destaca a incrível capacidade de Fernanda Torres de criação. Eles são vivos.
Agora vou levantar um cartão para Sílvio. Eu odeio Sílvio. Sílvio é um c# de pessoa, eu simplesmente o achei excessivo. Uma pessoa não tem como ser assim. Eu não vejo a beleza em ser Sílvio. Não entendo o porquê a sua vida mereça um mérito e tudo nele me incomoda. O jeito como ele objetifica as pessoas, como vive sem limites e é por isso que o acho perfeito. Sílvio é horrível o suficiente para que o odiasse como alguém que eu conhecesse.
Álvaro sim é o meu favorito. Gosto de sua ironia:
Não separo lixo, não reciclo, jogo guimba no vaso, uso aerossol, tomo longos banhos quentes e escovo os dentes com a torneira aberta. Dane-se a humanidade. Não vou estar aqui para assistir. (Posição 138, kindle)
Os cinco compartilham um tipo de amizade invejável. Eles são bem divergentes e ainda assim possuem esse elo invejável por qualquer um. Eu adoraria ter amigos como eles (Exceto Sílvio, não gosto dele :P).

O enredo
Os capítulos se dividem em Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro. Cada capítulo conta história do personagem e se sucede com a morte de outro. Ao longo da história de uns você aprende sobre os outros e são nessas memórias que nós construímos os personagens através de sua intimidade e das lembranças que os seus amigos têm deles.

Concluindo
O livro "Fim" talvez não seja para todos. Acredito que ele necessita de algo a mais para fazer com que as pessoas queiram lê-lo. E isso é algo que faz com que eu fique faltando palavras para conseguir descrevê-lo que me incomoda. Não é realmente um livro genial, mas uma boa leitura do livro de uma grande atriz. Fica aqui meus resultados:

O livro 8/10 - Eu achei o livro meio que um "material Globo". Seu deboche e sua pouca autocensura provavelmente não o levaria a uma adaptação como uma minissérie no canal e isso pode reafirmar para muitos que Fernanda Torres é de fato uma ótima autora e que aguardamos por mais obras.

A escrita 7/10 - Gostei muito da fluidez da leitura, mas ainda a penalizo pelos seus vícios linguísticos.

Os personagens  6/10 - Eu os acho vazios. Por mais que eu acredite que ela conseguiu construir ótimo personagens, eu ainda os acho fúteis, uma futilidade cansativa que se iguala a uma piada contada excessivamente. Eles vivem uma falsa boêmia, acreditam apenas em si e as suas falta de humanidade, acredito eu, são excessivas.

O enredo 10/10 - Sim, aqui vai um 10 porque eu gostei muito do jeito como o livro é construído. Gostei muito da história e das intrigas e, longe de qualquer preconceito, acredito sim que seja uma leitura que valha a pena.

Total 8/10