sexta-feira, 17 de maio de 2013

"Seara Vermelha" por Jorge Amado - A resenha

Seara Vermelha

Jorge Amado
Editora Companhia das Letras
360 páginas
(2009)
1ª Edição Original de 1946 pela Livraria Martins Editora

Um pouco sobre o livro
Nas terras do Aureliano há uma notícia terrível vinda do mesmo, a fazenda foi vendida. Artur, o faz-tudo do Aureliano foi ao casório que animava a noite para dar as terríveis notícias para os meeiros, temendo uma reação negativa daqueles que são explorados pelos “erros de cálculo” que Artur comete no Armazém.
O livro narra a história de uma família de meeiros que são expulsos da fazenda pelo novo proprietário. Sem grandes expectativas, logo eles se veem obrigados a imigrar para São Paulo, a terra onde toda riqueza é excessiva e onde a vida será para com eles mais branda. Jerônimo e seu irmão, João Pedro guiam suas famílias pela longa viagem, atravessando a caatinga, o Rio São Francisco e cortando o interior mineiro e paulista de trem.
O livro se divide em quatro partes. O prólogo, onde se conta a história que resulta a sua retirada da sua terra. A primeira parte, que se divide entre a viagem pela caatinga (capítulo 1), a chegada a Juazeiro e a viagem de barco pelo Rio São Francisco (capítulo 2) e a chegada em Pirapora e a angústia por uma papeleta que permitirá que continuem a viagem de trem para São Paulo (capítulo 3). Na segunda parte, conta-se a história dos três filhos de Jucundina que foram embora há muito tempo: O Zé Trevoada, O Jão e o Nenen. O Epílogo, de único capítulo de nome Tonho conta a vida em São Paulo através do personagem único entre as crianças a sobreviver a viagem.

Resenha
Sempre me bate algum tipo de ansiedade ao ler clássicos brasileiros, talvez seja um simples trauma bobo causado por todas essas nossas professoras de português que nos forçam no caminho da literatura. Foi assim aliás que comecei lendo Seara Vermelha. Um trabalho para a cadeira de Português Instrumental 1 me levou a comprar o livro e ler ele em frente à minha enorme pilha de livros que comprei nesses tempos.
Logo nos primeiros capítulos eu cai no encanto. Fui me distraindo e fui me deixando levar pelo sertão. Já sabia um pouco sobre o livro, por causa dos estudos do pré-vestibular que me levaram a vários resuminhos, mas ler foi muito melhor. Irei resenhar de uma forma diferente com este livro, pretendo fazer uma análise mais profunda e bem mais pessoal. Lembrando que haverá pequenos spoilers, mas nada que fará com que você desista de ler.
No começo me encantei logo com Noca, a neta de Jucundina que teimou em levar a gata que pouco a amava. Inocente e por muitas vezes teimosa. Oras, a menina foi arrancada de seu lugar para ir para uma terra tão distante que só os olhos sonhadores dos maiores conseguiam descrever. Foi sobre a sua jornada que logo me fixei, queria medir o começo do livro a partir dela. Noca é a primeira a morrer na viagem, e foi na sua morte que conheci Jorge Amado.
Jorge Amado é seco. Foi algo que percebi em poucas páginas e um conceito que acentuei a cada página que se aproximava. Ele não parece criar tanto caso quanto a morte ou ao sexo. Tudo é muito natural, há coisas maiores para se preocupar. Por muito tempo eu pensei que para o autor, ele só diferencia o homem de um animal porque o homem reza.
A viagem na caatinga mostra um lado horrível da nossa realidade. Ainda mais eu, nordestino de Pernambuco, as vezes me encontro desapercebido de informações sobre a realidade do outro lado do estado. Em mim só sobram contos, notícias do jornal, ideias preconceituosas que rondam as capitais e livros como esse.
A obsessão por São Paulo é extrema. Três dos filhos de Jucundina foram embora, dois deles tiveram vidas melhorares em cidades longe de São Paulo, mas a cultura do sertão da época havia posto um cabresto de ignorância que só o faziam perceber o Sul como a melhor solução. Aliás o sonho de todos os meeiros, de acordo com o livro, é ter a sua própria terra. Trabalhavam na terra dos outros e trabalhavam para sobreviver, não havia como acumular e tornar as coisas melhores.
Ao longo da viagem sucedem despedidas, seja pela morte, seja pelo desejo de viver.
Quando chegam em Juazeiro, até eu encontro um sossego. Tudo que desejam ao longo da viagem pela caatinga era que ela acabasse logo. De Juazeiro pegariam um barco pelo Rio São Francisco até Pirapora, em Minas Gerais, e foi lá que encontrei outro marco forte de Jorge Amado.
No subcapítulo 9, ele começa com "Ernesto não foi o primeiro menino a morrer [...]" e em seguida ele não dá por conta que um bebê havia morrido, ele continua firme narrando dos problemas da terceira classe, falando sobre o impaludismo e a miséria. Mais tarde ele fala sobre a morte do Ernesto e o seu terrível enterro, tendo seu corpo jogado no rio e seus parentes observando aquela pequena criança que tanto animava à Dona Jucundina. Momentos assim se sucedem ao longo da obra e isso me deixava cada vez curioso.
Até chegar em Nenen, no terceiro capítulo da segunda parte. Onde se narra sobre um dos filhos de Jucundina que abandonara a vida na fazenda procurando Lucas Arvoredo, o mais temido dos cangaceiros, mas nessa viagem ele encontra um destino diferente, ele acaba como um cabo revolucionário comunista, o que reflete ao Jorge Amado da época, que em 1945, um ano antes da publicação da primeira edição de Seara Vermelha, fora eleito deputado federal através do Partido Comunista Brasileiro.
Esse capítulo foi o que mais odiei, o achei maçante pelo simples fato de que o livro parecia haver terminado no fim do capítulo anterior e agora o autor se prendia a narrar sobre um personagem que mais tarde não significaria tanto para a conclusão do livro. Acredito que Jorge Amado se prendeu a esse capítulo por pura vaidade de si. Seu orgulho comunista nos leva por uma aventura de Juvêncio que me interessaria talvez em outra obra, mas por hora eu queria saber sobre  a vida deles em São Paulo.
Eu adorei o livro, me impressionei bastante e com essa leitura eu me vejo mais aberto a outras obras clássicas que com tanto preconceito eu tenho visto ao longo desses anos. Eu recomendo a leitura integral do livro para qualquer um.

3 comentários:

  1. Adorei sua descrição sobre o livro. Obrigada!

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  2. Adorei descrição sobre o livro. Obrigada.

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  3. Parabens pela descriçao! tambem fiquei encantada com o livro, e com isso passei a me interessar mais por literatura brasileira.

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